
RIO – As restrições à circulação adotadas no mundo todo como forma de combater a disseminação da Covid-19 levaram a uma queda sem precedentes nas emissões diárias globais de CO2, no início de abril, segundo estudo publicado na revista “Nature Climate Change”.
No dia 7 de abril, pico do confinamento no mundo, as emissoes diminuíram 17%, em comparação com os níveis médios diários em 2019. Os níveis voltaram aos que foram observados pela última vez em 2006.
No Brasil, a redução chegou a 25%, embora os pesquisadores não tenham considerado o desmatamento, que é o maior responsável pelas emissões brasileiras de CO2 e foi, em abril, o maior nos últimos dez anos. Foram avaliados: mobilidade, tráfego, congestionamento, uso de eletricidade e produção industrial.
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O índice brasileiro foi menor que o da Colômbia (36,5%) e o da Argentina (27,3%), semelhante ao da Alemanha (26,4%) e restante da Europa e superior ao de países como a Turquia (17,4%). Com 41,1%, a Nova Zelândia foi um dos países com maior redução.
De acordo com o estudo da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, a diminuição do transporte de superfície foi responsável por quase metade (43%) da redução nas emissões globais durante o auge do confinamento.
Já indústria e consumo de energia juntos representaram outros 43% da redução nas emissões globais diárias. Embora o setor da aviação seja o mais impactado pelo confinamento, as emissões da aviação representam apenas 3% do total, ou 10% da redução nas emissões globais durante a pandemia.
Em média, foi detectada redução de 75% no setor de aviação, 50% no transporte de superfície, 15% na geração de energia, com um pequeno aumento no uso de edifícios residenciais de 5%. Na indústria houve diminuição de cerca de 35% e o grupo estimou em 15% a redução nos edifícios públicos e comércio.
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O impacto do confinamento nas emissões de 2020 provavelmente levará à maior redução anual única desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Se as condições pré-pandêmicas de mobilidade e atividade econômica voltarem em meados de junho, o estudo projeta que 4% de declínio nas emissões totais de CO2 neste ano. Caso as restrições permaneçam em todo o mundo até dezembro, estimam-se 7% de declínio nas emissões em 2020.
Mudanças temporárias
Os pesquisadores, porém, não veem os dados com otimismo: “A redução de emissões neste ano tem um impacto mínimo nas mudanças climáticas, pois é extremamente pequena em comparação às emissões acumuladas até agora e em comparação com os cortes de emissões necessários para lidar com as mudanças climáticas”.
De acordo eles, seriam necessárias taxas de queda anuais de cerca de 4 a 7% por muitos anos para limitar as mudanças climáticas próximas ao aquecimento de 1,5 ºC, uma das metas do Acordo Climático de Paris.
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Um efeito rebote pós-pandemia não está descartado, caso investimentos em larga escala sejam direcionados à infraestrutura fóssil e se os padrões de emissões de veículos forem relaxados.
Como comparação, o estudo cita a Crise Econômica Global de 2008-2009, que levou a uma redução de 1,5% nas emissões em 2009, mas a uma recuperação de 5,1% em 2010, como se a crise não tivesse ocorrido.
“Essas mudanças extremas provavelmente são temporárias, pois não refletem mudanças estruturais nos sistemas econômico, de transporte ou de energia. As restrições sociais implementadas para controlar a pandemia, como mostrado aqui, não conduziriam às reduções profundas e sustentadas necessárias para zerar as emissões de CO2, e não são desejáveis porque não melhoram o bem-estar”, dizem os pesquisadores.
No entanto, eles veem oportunidades de mudanças, particularmente na questão da mobilidade, responsável por metade da redução das emissões durante o confinamento e que tem o benefício adicional para a saúde pública ao reduzir substancialmente a poluição do ar.
Para isso, seria preciso apoiar viagens ativas (caminhadas e ciclismo) que também colaboram para o distanciamento social. Os cientistas citam como exemplo cidades como Bogotá, Nova York e Berlim, que estão dedicando espaço nas ruas para pedestres e ciclistas para permitir uma mobilidade individual segura, com algumas mudanças que provavelmente se tornarão permanentes.
Além disso, pedem: planejamento urbano e novas soluções de mobilidade compartilhada, adoção de energia limpa e veículos elétricos, apoio ao home office quando possível e redução da demanda por aviação, apoiando mais o turismo local e as videoconferência para empresas.